“Preciso só de um documento de identificação por favor. Obrigada. Aqui tem. Pode andar com ela até às 16h30.”
Despeço-me do homem do balcão. Ele sorri. A Bica começa timidamente a percorrer a calçada de Cascais. A Bica ganha velocidade. Nesta viagem é ela a dirigir. Percorro com a minha nova companheira de viagem parte da ciclovia que termina no Guincho. Calças de desporto, ténis e camisolas fluorescentes passam e ultrapassam a Bica.
Ouço gargalhadas, vejo sorrisos, sinto a alegria de quem visita pela primeira vez e de quem faz destas terras rotina matinal.
As rochas dominam a paisagem. O mar agreste bate com alguma violência. É a Boca do Inferno que me faz parar. Uma gaivota espreita-me. Olha-me. Voa. Uma mulher de calças vermelhas e t-shirt branca pede para lhe tirar uma fotografia. Sento-me. Fecho os olhos e por momentos o mar conta-me a sua história. Parto.
"Ainda bem que veio hoje. O Farol de Santa Marta esteve fechado para obras e hoje é a sua abertura oficial. Com certeza. Pode subir!" Uma camisa branca e umas calças pretas encaminham-me até à entrada do farol. Uma cadeira branca repousa à entrada. Pé ante pé subo a escadaria. Cá em cima tudo parece pertencer a outro mundo. Sinto-me a Alice do País das Maravilhas em casa do Coelho Branco. De um lado do farol sinto-me gigante, a terra parece minúscula vista de cima. Do outro lado do farol sinto-me minúscula, o mar parece gigante visto de cima. Desço.
Parque Marechal Carmona. Encosto a Bica e percorro ruas e ruelas de terra batida. Por mim passam árvores, flores, plantas, animais. Procuro um lugar. O meu lugar… sentada num banco de jardim respiro. Recarrego baterias. O sol brilha. Parto.
Abandono o jardim e percorro a Marina de Cascais. Barcos aguardam viagens, pessoas aguardam viagens, barcos e pessoas aguardam pessoas. A Bica continua a sua viagem. Camisolas brancas e coloridas, calças e calções saem à rua. Óculos de sol e chapéus ocupam esplanadas e bancos de jardim. Ténis e sapatos percorrem ruas e ruelas da cidade. Entrego a Bica. Despeço-me dela e continuo a minha rota a pé.
Pé ante pé percorro ruelas cheias de gentes e vidas. Paralela ao mar sigo viagem. Ele é o meu novo companheiro de viagem. Monte Estoril. Estoril. Percorro o passeio marítimo. Tolhas estendidas na areia, bolas voam pelos ares, pranchas apanham ondas no mar. Pessoas chegam, pessoas permanecem, pessoas partem. Chego, Permaneço. Parto. Abandono o mar e entrego-me ao comboio.