Carruagens Schindler
Ao serviço da CP desde 1948.
As carruagens Schindler são um dos primeiros grandes passos da modernização do caminho de ferro em Portugal, em particular da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. À época, era reconhecido que a frota de carruagens era insuficiente e antiquada, formada sobretudo por veículos com carroçaria em madeira.
Entre 1927 e 1948, o número de passageiros transportados duplicou e, durante esse período, a frota da CP foi aumentada em apenas seis carruagens construídas nas oficinas da Companhia em Campanhã, Porto.
A 26 de junho de 1947, a CP assinou um contrato de 12.016.500 francos suíços com a empresa suíça Schindler Wagons SA para a aquisição de 65 carruagens de diferentes tipologias. O número total de carruagens definido no contrato incluía já a opção de compra de mais cinco, das quais duas seriam de 2ª classe e três de 3ª classe, mas tal não viria a ser acionada por parte da Companhia. Assim, o valor final das 60 carruagens Schindler era de 11.110.000 francos suíços a serem pagos de forma faseada e em tranches com valores distintos. Em dezembro de 1948, um incêndio na fábrica da empresa em Pratteln, no cantão de Basel-Stadt, danificou cinco veículos que faziam parte da frota encomendada pela CP. Após averiguações e pareceres técnicos, as carruagens foram dadas como recuperáveis, mas sofreram desvalorização. Como forma de compensação, o construtor suíço propôs à Companhia a aquisição de mais uma carruagem pelo preço convidativo de 15.500 francos suíços. A proposta foi aceite pelo Conselho de Administração.
Deste modo, a nova frota de 61 carruagens era composta por oito veículos de 2ª classe, nove de 2ª classe com furgão, quatro de 3ª classe com furgão e 40 de 3ª classe. O contrato celebrado entre a CP e a Schindler apresentava também um conjunto de requisitos a cumprir por parte da empresa suíça: o material circulante teria de ser entregue via estação transfronteiriça de Marvão-Beirã, no Ramal de Cáceres, e pronto a circular na rede ferroviária portuguesa; a primeira carruagem teria de ser entregue num espaço de oito meses e as restantes entre seis a oito meses; durante dois anos, e após prazo de execução do contrato, a Schindler teria de substituir gratuitamente todas as peças eventualmente com defeito bem como as que apresentassem desgaste considerado anormal, fraturas ou qualquer tipo de anomalia. O prazo de entrega das carruagens teria de ser entre meados de 1948 e finais de 1949.
A viagem inaugural da primeira carruagem decorreu no dia 18 de junho 1948 na Linha de Sintra entre Estação do Rossio em Lisboa e Sintra. O momento contou com a presença de várias figuras, entre elas representantes do Conselho de Administração da Companhia, da Schindler Wagons SA, e dos governos português e suíço. O material circulante apesar das diferentes tipologias, apresentava características comuns, nomeadamente o facto de serem de estrutura tubular, dotadas de bogies e serem construídas em aço macio. Têm um salão amplo, janelas de abrir panorâmicas, WC, aquecimento central e estão aptas a circular a uma velocidade máxima de 120 km/h.
Adquiridas inicialmente para o serviço suburbano de Lisboa da Linha de Sintra, o novo material circulante depressa se espalhou um pouco por todo o lado, a norte do rio Tejo nomeadamente nas linhas do Minho, Douro, Norte e Ramal de Braga tendo efetuado vários tipos de serviço e assegurado várias circulações especiais. Na década de 50, o estado português e a Companhia pretendiam dar continuidade ao processo de modernização da frota também através da aquisição de material automotor. Em 1951, a Schindler mostra interesse em fornecer automotoras à Companhia, mostrando-se inclusive disponível para instalar uma fábrica em Portugal. No entanto, tal não viria a acontecer.
Quando chegaram a Portugal, as carruagens ostentavam um esquema de cores formado por vermelho, cinza claro e subleito a preto. A primeira alteração de cor dá-se nas décadas de 50 e 60, altura em que foi implementado um esquema azul a uma parte da frota. A par destas alterações, alguns dos veículos são convertidos em carruagens de 1ª classe, em que se destacam os assentos monolugar e reversíveis. Posteriormente dá-se também a extinção da 3ª classe.
Nos anos 70, época em que a CP é nacionalizada, há nova alteração da cor das carruagens que passa a ser em tons de vermelho e branco com tetos em castanho. Este esquema de cores manteve-se até ao início dos anos 2000, altura em que as carruagens que existiam à época foram retiradas do serviço comercial, à exceção de uma parte da frota que se manteve em circulação entre 2004 e 2007 no âmbito do projeto “Comboio do Vinho do Porto” e que recebeu novo esquema de cores em tons de cor do vinho tinto e castanho.
O mês de junho de 2017 marca o regresso oficial de uma parte da frota ainda existente de carruagens Schindler ao serviço comercial e à Linha do Douro, após uma década de ausência e no âmbito da criação do comboio regional MiraDouro como forma de dar resposta e reforçar a oferta comercial durante a época de maior afluência à Região e Linha do Douro. A apresentação oficial desta nova oferta realizou-se também no mês de junho, com uma curta viagem de ida e volta entre Contumil e Ermesinde. Estes veículos foram intervencionados e receberam novas cores em tons de vermelho, amarelo, laranja e banco.
No âmbito do plano de recuperação de material circulante da CP, as carruagens Schindler que estavam imobilizadas há quase duas décadas foram recuperadas e integradas nos serviços regionais da linha do Douro. Além do seu recondicionamento, grande parte da frota ostenta novas cores em tons de vermelho “vivo” e branco. No entanto, há carruagens que se distinguem por terem um esquema de cores dos anos 50 e aquando da sua chegada a Portugal.
As carruagens Schindler são uma das maiores compras de material circulante feita à indústria ferroviária internacional alguma vez concretizada em Portugal.