A série 0500 da CP
Os comboios do serviço Foguete
As automotoras diesel, série 0500 da CP, foram adquiridas pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses nos anos 50. A compra deste material circulante está diretamente ligado ao objetivo da Companhia em lançar, à época, um serviço rápido e de alta qualidade entre Porto e Lisboa, direcionado para a classe média-alta. Deste modo, surge o “Foguete”, nome comercial atribuído ao serviço de topo da CP, resultante da introdução da nova série 0500.
Esta série, construída pelo fabricante italiano FIAT com sede em Turim, era constituída por três comboios automotores, formados cada um deles por duas carruagens motorizadas – ambas com cabine de condução –, e um reboque intermédio. Capazes de atingir uma velocidade máxima de 120 km/h, estas unidades caraterizavam-se pelo interior confortável e luxuoso, bem como pela possibilidade de serem servidas refeições a bordo. A distribuição de lugares era apenas em 1ª classe e dispunham daquilo que era uma estreia no serviço ferroviário em Portugal – ar condicionado. Os bancos eram orientáveis consoante o sentido da marcha.
A primeira unidade FIAT 0500 chegou a Portugal via ramal de Cáceres, no dia 15 de janeiro de 1953. Em fevereiro, fez os primeiros testes numa viagem entre Lisboa e o Porto. Nesse mês, a CP recebe a segunda unidade. No dia 9 de março, foi feita a primeira viagem oficial do recém-criado serviço “Foguete”, com a presença de inúmeras individualidades da sociedade portuguesa. Ainda no decorrer deste mês, terá sido entregue a terceira e última unidade. A frota de automotoras FIAT destacava-se pela sua cor prateada com uma faixa estreita em tons de vermelho de vermelho que corria por debaixo das janelas ao longo de toda a composição. No início da exploração comercial, ostentavam a palavra “Foguete” gravada na frente do comboio.
A viagem inaugural do novo serviço da CP deu-se a 5 de abril de 1953. Nele terão viajado as elites dos anos 50 e 60. O “Foguete” teve tanta aceitação que foi reforçado com mais circulações diárias. No entanto, esta situação contribuiu para que começasse a haver problemas mecânicos devido à utilização bastante exigente de uma reduzida frota formada por apenas três comboios.
A década de 60 traz mudanças na frota. Após os primeiros 10 anos de serviço, as automotoras receberam novo esquema de cores em tons de azul escuro, com uma faixa vermelha ao longo das unidades. Entretanto, com conclusão da eletrificação da Linha do Norte em 1966, as FIAT 0500 tornaram-se desnecessárias para o serviço “Foguete” do principal eixo ferroviário do país e foram substituídas por comboios formados por locomotivas elétricas mais carruagens.
À época, a frota deixa de ter um serviço fixo e passa a assegurar outros serviços e a circular noutras linhas, como por exemplo, nas linhas da Beira Baixa e Oeste. A década de 70 marca um novo rumo para as automotoras FIAT 0500. A CP pretendia criar um serviço premium semelhante ao do “Foguete”, com o intuito de ligar Lisboa ao sul do país.
Deste modo, a frota é intervencionada nas oficinas do Barreiro e, em 1971, inaugura o “Sotavento”. Este novo serviço ligava o Barreiro, Setúbal, Albufeira, Faro, Olhão e Tavira a Vila Real de Santo António-Guadiana. As automotoras 0500 receberam novo esquema de cores em tons de branco, com uma faixa vermelha ao longo da composição. Foi aplicada a palavra “Sotavento” e nos topos foram aplicadas listras oblíquas vermelhas.
Em finais dos anos 70, e devido a problemas mecânicos com as 0500, uma parte do “Sotavento” já era ser assegurado por comboios formados por locomotivas diesel e carruagens. Em 1982, a frota foi definitivamente retirada de serviço comercial. Algumas das carruagens foram convertidas em veículos-socorro e afetos às estações de Contumil e Barreiro. Atualmente a unidade completa existente, aguarda projeto de conservação e restauro.
A designação comercial “Foguete” teve tanta aceitação, que permaneceria no imaginário popular, associado aos serviços rápidos subsequentes no eixo Lisboa-Porto da Linha do Norte até finais dos anos 80. Inclusive, emprestou o nome a um conhecido programa de televisão da RTP datado de 1983.