O Comboio Real
Ao serviço da Família Real Portuguesa, entre 1862 e 1910
O Comboio Real Português é uma das grandes referências da história ferroviária nacional e uma peça única a nível mundial. Ao serviço da Família Real Portuguesa entre 1862 e 1910, nomeadamente da rainha D. Maria Pia de Saboia, do rei D. Luiz I e do príncipe D. Carlos, este comboio era formado por uma locomotiva a vapor, respetivo tender (veículo de apoio que transportava o carvão) e dois salões. As suas características ímpares representavam a ostentação e riqueza da época da monarquia constitucional.
Considerada à época uma das melhores e mais rápidas locomotivas do mundo, a locomotiva a vapor C.F.S Nº1, entretanto batizada de D. Luiz, foi adquirida com o objetivo de rebocar o Comboio Real. Construída em Manchester, em Inglaterra, nas oficinas da empresa Beyer Peacock & Co, foi entregue aos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste em 1862. Esta locomotiva de série única, fez parte da Exposição Internacional de Londres de 1862, tendo sido galardoada com uma medalha de ouro. Foi oferecida ao rei para as suas deslocações no sul do país e podia atingir uma velocidade máxima de 80km/h.
Construído em 1858 pela empresa belga Compagnie Générale de Materiels de Chemins de Fer, o salão D.ª Maria Pia foi oferecido pelo rei Vittorio Emanuele II de Itália à sua filha D. Maria Pia como prenda de casamento com o rei D. Luís. Com linhas estéticas herdadas dos coches seus antepassados e esquema de cores em tons de verde e preto acompanhado pelos brasões reais, o seu interior sumptuoso é composto por uma antecâmara de serviço, sala de estar e pelos aposentos da rainha do qual fazem parte um quarto, sala contígua e instalações sanitárias.
Ao Comboio Real viria a juntar-se mais tarde o Salão do Príncipe. Adquirido em 1877 ao fabricante inglês Ibbotson Brother Co. Limited, sediado em Sheffield, o salão foi uma prenda da rainha D. Maria Pia ao seu filho, o príncipe D. Carlos, no seu 14.º aniversário. Com uma cor predominantemente verde, o salão caracteriza-se pelo interior luxuoso e pelo seu varandim coberto. É formado por uma pequena sala, um salão principal e uma divisão com instalações sanitárias.
O Comboio Real Português foi utilizado em viagens da família real e circulou com frequência entre o Barreiro e Vila Viçosa. A sua história está também associada a importantes momentos do caminho-de-ferro nacional. O salão D. Maria Pia circulou em 1863 na inauguração da linha do Leste até à fronteira de Elvas e na inauguração da ponte Maria Pia no Porto, em 1877.
A locomotiva a vapor D. Luiz foi responsável por rebocar, em 1863, o primeiro comboio da Linha do Leste entre Lisboa e a fronteira de Elvas e o Salão do Príncipe esteve na inauguração da ponte Maria Pia, em 1877. A partir de 1910, ano da implantação da república, os salões foram resguardados de forma a evitar que fossem destruídos e a D. Luiz ficou. até 1916, a rebocar comboios suburbanos na linha do Sul. Sete anos mais tarde viria a ser retirada de serviço.
Em 1952, nas Oficinas Gerais do Barreiro, os veículos foram intervencionados e restaurados, ficando novamente em estado de marcha. Esta medida inseriu-se no âmbito do Centenário de Comemoração dos Caminhos de Ferro Portugueses, em 1956. A composição viria a ser deslocada para a seção museológica de Santarém, no ano de 1979, onde permaneceu exposta até 2010. No mês de janeiro desse ano foi transferida para as oficinas da ex-EMEF, no Entroncamento, de modo a ser submetido ao processo de restauro necessário para integrar a exposição “Royal Class-Regal Journeys” do Museu Ferroviário da cidade holandesa de Utrecht, que decorreu de 15 de abril a 5 de setembro de 2010.
O Comboio Real Português foi a peça de destaque da iniciativa e desde o seu regresso que a composição está em exposição estática no Museu Nacional Ferroviário no Entroncamento.