Lisboa - Fado Cantado

“Os telhados estendem-se até ao Tejo”. Por Catarina Tagaio.

As horas passam. Sorrisos, gargalhadas, melodias e cantigas enchem espaços e percursos de uma Lisboa onde o fado é cantado e sentido a rir…

Dezassete horas. Miradouro da Senhora do Monte, Lisboa.

O azul do céu confunde-se com o azul do rio. O sol brilha timidamente. Pessoas sorriem e posam para a fotografia num dos miradouros da Cidade das Sete Colinas. Ao longe um relógio bate as horas. Um homem ajoelha-se em frente à Capela da Senhora da Saúde. Um grupo junta-se ao lado da capela. Trocam-se sorrisos. A viagem começa.

Pé ante pé subo as Escadas da Mouraria. Olho, vejo e reparo em todos os cantos e recantos que compõem esta longa escada. A escada acaba. O grupo para. Fátima e Henrique recomendam: “por aqui ou por ali…” Fátima e Henrique falam da vida, da casa, do filho, da janela onde nunca estão mas hoje… hoje lá do alto conversam e trocam sorrisos com o grupo. O grupo parte. Um até à vista fica no ar. 

Lençóis com nuvens bailam ao vento. Salto de estendal em estendal e encontro toalhas, aventais, calças, camisolas, vestidos… tamanhos grandes, tamanhos pequenos. O vento empurra suavemente cada peça estendida e de salto em salto sou empurrada até ao Miradouro da Graça.

Desço. O grupo conversa com Liberdade e Ilda. Amigas de longa data as duas senhoras falam da vida, da sua Graça e da amizade que as une. Afasto-me. O rádio toca jazz e blues. Até às duas horas da manhã é a companhia de José Carlos. De calças pretas, camisa bege e óculos pretos e redondos o tímido José fala-me das filhas, da Graça e do futuro. No mundo de José os saxofones e os trompetes tocam sinfonias de melhores dias, de esperança e de vontade de vencer! 

Um telhado branco florido, uma porta bordada a metal, um pequeno corredor calcetado de histórias e ao fundo um pátio vazio… A Vila Sousa descansa na sua paz e um candeeiro repousa solitário ao centro do pátio. Congelo. A cena escurece e o candeeiro ganha luz. Viajo no tempo. Oiço um assobio. Um homem bêbedo aparece na minha cena e conversa com o candeeiro. “Boa noite vossa excelência. Podia fazer o obséquio e dar-me um bocadinho do seu lume?” O candeeiro ilusionista e vaidoso, desaparece. O homem afasta-se. Acordo. O sol brilha novamente na Vila Sousa e eu de cantiga em cantiga deixo o pátio e junto-me ao grupo.

 Caminhamos distribuindo gargalhadas pelo ar e de um momento para o outro somos teletransportados para o “verdadeiro” Pátio das Cantigas.

Balões dependurados, fitas e papelinhos coloridos, manjericos com quadras populares, barraquinhas e cadeiras vazias enchem e preenchem o espaço da Vila Berta. Cidalina do alto da sua janela recebe o grupo e toca-nos com a sua simpatia, a sua alegria, a sua vivacidade. 

Dezassete horas. Miradouro da Senhora do Monte, Lisboa.

Bancos cheios de vidas estendem-se em frente a uma das paisagens panorâmicas da capital. Famílias e amigos tiram fotografias para mais tarde recordar. À esquerda a Ponte 25 de Abril e o Castelo de São Jorge aguardam o espetáculo do entardecer. À direita a Praça de Londres e a Penha de França aguardam o iluminar da sua Fonte Luminosa. Em frente o Martim Moniz aguarda melodias, cantigas e sinfonias de gentes e culturas para mais um serão lisboeta cantado e sentido a rir. 

Beatriz canta com alma e coração. Faz-se silêncio. Um grupo de turistas aplaude. Beatriz canta o seu último fado do dia. Beatriz abandona o palco. O grupo de turistas parte. Laura vem receber-nos à porta e convida-nos a entrar. A sala cheia intimida-nos. Laura distribui sorrisos, atenções e toca-nos com a sua simplicidade. Permanecemos.

Ouve-se o fado. Faz-se silêncio. Aqui o fado é cantado e sentido a rir, a sorrir. O tempo passa. A Tasca do Jaime é o lugar onde tudo se dispersa. Daqui partem sonhos, ilusões, pensamentos e vidas manipuladas por fados incontroláveis. Daqui partimos com sonhos, sentimentos e saudosismos. A viagem termina. O grupo dispersa-se. O relógio bate as horas… é hora de partir!

Veja aqui as imagens que completam o roteiro.